terça-feira, 18 de outubro de 2016

Strangers

"I wanna run away, I wanna run away. Anywhere out this place
I wanna run away
Just you and I, I, I, I
U and I, I, I, I
Just u and I"


    A música tocava em uma altura em que podia se sentir tudo tremer, não só o lugar ou os objetos, mas cada célula o meu corpo vibrava no ritmo da batida, era como se eu não tivesse controle sobre meus movimentos, talvez fosse efeito do álcool ou talvez era só a animação que eu sentia, a vontade de aproveitar o momento como se fosse o ultimo, como eu sempre dizia a mim mesma para fazer.

-Manu! Manuella, vem comigo, rápido. - senti Harry agarrar o meu braço com força, me tirando do transe.
-Que foi? - eu gritava para que ele pudesse me entender - O que aconteceu?
-A Fer ta mal, muito mal.


   Depois de alguns esbarrões e alguns apagões eu voltei à consciência, sabe quando você parece perder alguns pedaços do momento? Era como eu estava, não lembrava de algumas coisas, nem por que eu estava em certos lugares ou tinha feito certas coisas, mas não estava preocupada com aquilo, fiquei preocupada quando vi a Fernanda deitada no chão do quarto do anfitrião, que sinceramente eu não fazia ideia de quem era.

-Fer? - eu me aproximei, vi Gabe fechar a porta preocupado com as pessoas que passavam no corredor.
-Quem é? Quem tá ai? Manu, é você? - me assustei com aquela reação.
-Como assim quem é? - me sentei ao lado dela - Sim, sou eu, abre o olho!
-NÃO DÁ! NÃO CONSIGO ENXERGAR NADA!

  Ela começou a se engasgar em soluços de choro, logo em seguida abriu o olho, mas não olhou para nenhum lugar específico. Senti um embrulho no estômago, aquilo podia dar um grande problema e podia ser algo realmente sério, senti que ia começar a chorar com ela, ela tornou a fechar o olho, Gabriel se aproximou.

-Fer, o que quer dizer com não consegue enxergar nada?
-Tá tudo preto! Eu... - a Fer tornou a abrir os olhos como se esperasse alguma mudança - Passou...
-Você estava brincando com a nossa cara? - Gabe disse tentando controlar o tom de irritação.
-NÃO! Não, eu juro, eu não sei, eu só não estava enxergando nada, eu pensei que... eu não sei, fiquei com muito medo.
-Você bateu com a cabeça em algum lugar? - eu perguntei pensando em como alguém poderia ficar momentaneamente cego - Pode ter sido forte.
-Não, não lembro nem como começou, só começou. - ela olhou para Gabe que balançava a cabeça negativamente, como se aquilo fosse uma grande invenção ridícula - Gabe, eu...
-Esquece, vou voltar pra festa. - ele saiu do quarto antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa.
-Ele vai esquecer, só está de cabeça quente. - eu disse tentando consolar a Fer, porque eu sentia o quanto ela tinha ficado chateada com a ação do namorado.

    Depois de toda aquela confusão ninguém sentia mais vontade de fazer nada e aquilo tinha me desanimado completamente, sem mencionar que todo o efeito do álcool já tinha ido embora fazia uns 10 minutos, mesmo eu ainda não sentindo minha boca. Tirando a festa, o final de semana não poderia ter sido mais pacato e entediante, como sempre era, principalmente no Domingo. Estavam todos de ressaca e a maioria das pessoas iria dormir o dia todo, comigo não seria diferente.


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   O dia tinha amanhecido extremamente bonito, tomei um café da manhã caprichado e sai cedo para pegar a estrada para chegar na faculdade a tempo. Esse final de semana tinha resolvido ir para casa, passar um tempo com minha mãe, estava com saudades e não estava com vontade de ficar no campus um feriado emendado com o final de semana, já passava todos os dias da semana lá.

-Oi Manu. - Louis disse vindo ao meu encontro assim que entrei no corredor.
-Você não me dá sossego ein. - falei em tom de brincadeira e o abraçei.
-Você trouxe...
-Sabia!
-O quê?
-Sabia que ia pedir algo.
-Não, sua chata, eu só ia perguntar se você trouxe sua pesquisa do semestre passado pra mim, que eu tinha pedido antes do feriado.
-Relaxa, não peguei, mas está no meu dormitório, depois do meu seminário vou lá pegar meus livro de História e trago pra você.
-Demorou, mais tarde a gente se vê então.

   Louis era um período mais adiantado que todos da nossa turma de amigos, o mais velho, provavelmente o mais querido, o extrovertido. Todos entraram desanimados no seminário,inclusive eu que estava esperando encontrar Fer, mas não a vi, reconheci apenas o Harry e o Gabe, sentados bem distantes um do outro, pra variar.

-Onde tá a Fer? - perguntei assim que sentei ao lado de Harry, tinha mais intimidade com ele do que com o Gabe.
-Não sei, não falo com ela desde Sábado. Ela não respondeu minhas mensagens. - Harry olhou de relance para o Gabriel que estava concentrado no celular - Acho que eles ainda estão brigados.
-Eles não brigaram, ele só...
-Agiu como um babaca só porque achou que ela estava fingindo para chamar atenção, depois vocês reclamam que eu não vou com a cara dele.
-Bom argumento, mas nós dois sabemos por que vocês não se batem.


As aulas passaram dolorosamente devagar, bem entediante, era como aqueles dias em que tudo parece estar destinado a dar errado, não dessa maneira forte, mas de um jeito azarado, como jogar na MegaSena e perder o bilhete premiado, muito pior do que não ser sorteado certo?

-Oi!- disse já entrando no dormitório da amiga - O que houve?
- Sinto que estou morrendo.
- Eu sinto isso - dou uma pausa pensativa - há 22 anos. - Fer não respondeu apenas se sentou na cama com a expressão cansada, estava mais pálida que o normal. - Mas serio, por que não foi na aula?
-Não estava me sentindo bem.
-To começando a ficar preocupada com tudo isso.
-Tudo isso o que?
-Tudo isso que está acontecendo sabe? - me sento ao lado dela - Você ficando cega momentaneamente, desmaiando, é estranho, você precisa ir ao medico.
-Não acho que isso sejá alguma doença ou qualquer coisa que um médico possa resolver.
-Como assim? Por que acha isso? - sem querer encostei minha mão na dela, ela estava gélida, extremamente fria, não consegui disfarçar minha cara de assutada, não tinha o que dizer.
-Eu não sei.. - Fer se levantou rapidamente, assustada com a minha reação eu presumo - É estranho, só sinto que isso não é uma doença, alguma coisa psicológica talvez, eu não sei, só quero que passe logo... - Eu me levanto tambem, esperando o momento certo para consola-la, mas não o acho - ... espero que passe logo.




~Manu off~
~Fer on~